"I like to call this one Blue Steel"

Meses. Estava com Georgina há meses, mas pareciam-lhe dias. Quanto mais tempo passava, menos Michael se importava com as coisas, e mais se preocupava em saciar aquela loirinha que só sabia falar as piores coisas nos piores momentos possíveis. Sorriu levemente, ainda que estivesse sendo algemado por atentado à ordem pública depois de mais um dos porres característicos do Morrisson. Não sabia por que ainda insistiam em prendê-lo, na verdade, uma vez que todos estavam conscientes de que o filho da juíza, por mais que a mulher tentasse, era um caso perdido. Deu de ombros quando o oficial começara a ditar seus direitos, especialmente o de se manter calado. O homem não lhe parecia nem um pouco afável e Michael não puxaria assunto com esse tipo de pessoa, até porque provavelmente era mais um dos seguidores cegos de Tudor. Claro, a cidade estava cheia deles. "Cuidado pra não amarrotar a jaqueta. Sabe como é... Relíquia de família.", soltou um sorriso sardônico e cínico a medida que o homem apenas o encarou com careta de poucos amigos. Revirou os olhos antes de entrar na viatura, algemado e nem um pouco sóbrio.

Claro, tudo mudou quando ele finalmente chegou, de fato, na delegacia. Michael conhecia praticamente o lugar todo, tendo passado não só a infância, com a mãe e seus amigos, além do pai ali dentro, mas também boa parte da adolescência, quando virara um delinquente, segundo os parâmetros de todos os hipócritas de Eufaula. Os mesmos oficiais velhos, os mesmos bêbados de sempre - ele estava incluso ali - e as mesmas ocorrências sendo repetidas infinitamente. Se Michael não fosse tão desligado e tivesse um pingo de orgulho, como todos falavam, ele já teria quebrado esse ciclo vicioso, mas ele sentia prazer em passar boas noites na companhia de outros que também não se encaixavam naquela sociedade pútrida. Encontrou, no entanto, uma cabeleira meio bronze no meio de todas aquelas pessoas e soube exatamente quem era, dando um muxoxo.

Claro, Brandon estava de plantão logo hoje. Sua sorte não poderia melhorar, podia? Só faltava Nymeria sair do mato, como a bela bruxa que era, brandindo sua varinha de condão e gritando com ele ao empalá-lo com a vassoura que sempre carregava por ser uma bruxa, obviamente com a careta maquiada para esconder as verrugas no nariz. Não conseguiu deixar de soltar uma risada com o pensamento, chamando a atenção de todos ao aparentar uma leve loucura. Oras, era de Michael Morrisson que se tratava. Por que estavam tão surpresos? Ele era errado demais, uma má influência e uma péssima escolha para namorado.

A boa notícia era que ele não era namorado de ninguém. Ou melhor, adorava acreditar que o que tinha com a Stark era passageiro, e não o ligava à Nymeria, ou a Brandon. Os dois eram um saco, desde a época do colegial, e aturá-los seria uma merda muito grande, até mesmo para o Morrisson. Estava tentando fugir de problemas que pudessem acabar em uma bola de neve mais tarde. Claro, as idas à delegacia eram algo mais recreativo. Não as considerava um problema, realmente.

Pelo menos quando o Marshall não era o oficial de plantão.

Engoliu em seco, tratando de pôr um sorriso na cara e se apoiar no balcão onde o oficial estava trabalhando. "E aí, Brandon? Tudo na paz?", o fedor de álcool exalava da boca do loiro, bem como de suas roupas e poros - alguma coisa tinha que se livrar de tanto veneno, e o organismo de Mike encontrara aquelas formas. Não se importara, no entanto, com suas condições físicas naquele momento - ou em qualquer momento, na verdade, visto que ele era um largado de marca maior - porque tinha problemas maiores, como a cabeça rodando lentamente e sua falta de coordenação, com os quais lidar no momento. Se inclinou sobre o posto de trabalho do oficial, pouco se importando se os outros oficiais - em sua maioria senhores de idade já - iriam rechaçá-lo, mas pronto para irritar o Marshall.

Nunca se deram muito bem no colégio, e isso era fato, mas até que o loiro conseguira ter um pouco de empatia com o filho da juíza depois de algumas noites em claro na cela da delegacia de Eufaula. Mas era só isso, na verdade. Não eram amigos nem nada. E Michael estava muito bêbado para falar com o Marshall daquela forma, porque, diabo... Quem, em sã consciência, acabava noivo - NOIVO! - de Nymeria Stark? Michael sentia pena pelas bolas do oficial. Seria castrado assim que dissesse "sim". Ou melhor, já devia ter sido.

Quando o oficial levantou a cabeça, com cara de poucos amigos, Michael levantou os braços, deixando à mostra as algemas com um sorriso no rosto, como se estivesse se desculpando, mas na verdade estava debochando. "E aqui nós estamos... De novo, velho amigo.", completou, dramático até demais para si mesmo. "Libera as chaves pra minha soltura? As algemas estão ficando cada vez mais apertadas.", deu um sorriso de canto antes de terminar. "E, além do que, tenho o direito de ser bem tratado, e não algemado como um porco", deturpou a lei, como adorava fazer, e Brandon saberia disso, exatamente por ser um oficial tão exemplar, mas Michael estava, realmente, querendo um motivo para que o oficial barrigudo não o levasse novamente pra cela naquela noite. Ainda tinha muita coisa a fazer, como arquitetar algum plano pra tirar a Stark mais nova da aba da bruxa que era sua irmã para irem logo ao mochilão. Nymeria estava sendo o único empecilho, e Michael não queria, de forma alguma, deixar Georgina sozinha em Eufaula durante o verão. Chamem-no de supersticioso, mas ele quase nunca estava errado quando realmente queria algo.

Obviamente, a tarefa não seria nem um pouco fácil, visto que Bran o encarava com uma careta de poucos amigos, quase pior do que a da loira mais velha, mas nada conseguia ser pior do que a careta de Nymeria. Deu de ombros, puxou uma cadeira e se sentou, frente ao oficial. "Precisamos conversar, meu chapa.", começou, adquirindo uma pose séria, agora.