Misunderstood

“Ethan, aceita Julliet como sua futura esposa...?”

Mal ouviu quando o professor finalizava aquela aula de mecatrônica. Só percebeu que tinha chegado ao fim quando alguém trombou com seu ombro o fazendo deixar cair a caneta que girava entre os dedos com os olhos fixos no palco à frente, mas a cabeça longe... muito longe. Respirava fundo coçando o cabelo na parte da nuca e se permitia ficar um pouco mais sentado antes de pensar em levantar.

Sacodiu a cabeça para espantar aquele pensamento. O sonho acordado que vivia lhe perseguindo agora, era só o que faltava. Pesadelos acordado. Onde era o noivo, e quando o véu era retirado de Julliet, uma psicopata assassina zumbie arrancava sua cabeça com uma motoserra. Chega, essa coisa do casamento estava começando a mexer com a sua sanidade, e a culpa era dela.

Levantou pegando a mochila com o tablet e jogando nas costas. Apressando-se para sair dali. Ia procurar por Julliet, e esquecer daqueles pensamentos nos beijos da noiva. Qualquer coisa desde que não se batesse com Elizabeth pelos corredores, e era por isso que apressava o passo por ali, ganhando rapido o caminho para a área externa...

Retirava o I-Phone do bolso enviando um SMS, não sabia se ela estava na Universidade, então enviava uma mensagem. Talvez combinar alguma coisa pra noite e pelo amor de tudo que é mais sagrado Julliet, que fosse um programa a dois. Sem mais ninguém, sem os amigos, e por eles, já se referia ao motivo de ter estado estranho nos últimos dias.

Havia passado os últimos dois dias fugindo de contato, sem atender suas ligações, ou mesmo evitando a proximidade com a desculpa esfarrapada de que tinha que se concentrar num projeto de trabalho para a faculdade... tudo para conseguir tempo e voltar ao foco apos uma noite com Elizabeth.

“Hey, sininho. Estou aqui pela universidade, onde você está? E o nariz de quem eu tenho que quebrar? Rs. Estou com saudades...Beijo.”

E demorava ainda alguns segundos antes de escrever as ultimas frases, ou mesmo de apertar o botão de Send. Mas, enviava enquanto buscava um lugar qualquer na sombra que pudesse sentar. Tinha tempo até a próxima aula e não queria socializar por enquanto.

Acompanhava o ir e vir dos alunos, limitando-se a um sorrir ou um sinalizar com a mão, enquanto esperava a resposta do SMS. Os olhos desviavam rapidamente apenas para olhar ao redor e encontrar a sombra de uma das árvores do lugar. E ela não demorava. Ele não conseguia evitar o sorriso de alívio e carinho por ter respondido, Julliet. Mas ainda levou um tempo antes de responder de volta.

Respirou fundo formatando na cabeça a desculpa certa e ideal para o seu sumiço nos últimos tempos, ainda mais com os preparativos do casamento e até mesmo a despedida de solteiro que estavam preparando. E ele simplesmente desaparecera. É Ethan, você vai precisar tirar algo bom da sua cartola.

O ruido e o leve tremor do aparelho nas mãos informava que outra mensagem estava chegando antes mesmo que ele respondesse a primeira. E ela estava perto. Ele se erguia, limpando a calça jeans escura e seguia em direção ao jardim central, ajeitando a mochila nos ombros. Enfiava o aparelho no bolso, não ia mandar SMS, de resposta, já estava perto e sorria ao reconhecer os cabelos que brilhavam ao sol matinal. Apressou os passos caminhando na direção dela, surpreendendo com um beijo no pescoço debruçando-se sobre ela.

- A gatinha está sozinha? – ele perguntava com os lábios a sussurrar bem pertinho do lóbulo, a barba por fazer arranhando a pele delicada.. e sorria, sentando-se ao lado dela, mas virado para ela, como se montasse o banco.. a mochila era colocada sobre a mesa. E ele esperava ela erguer o rosto, para colocar as mechas dos cabelos para trás das orelhas.

- Eu senti tanto a sua falta... – dizia, e era verdade, sentira. Certo que apenas quando já não estava nos braços errados, na boca errada, entre as pernas erradas.. mas isso ela não precisava saber, e a mão ia certa até a nuca, enroscando nos cabelos e puxando o seu rosto para perto, Julliet. Pra encaixar a boca na sua num beijo. E que o beijo a fizesse esquecer da ausência das ultimas 24 horas.

Ele a avistava distraída, e era exatamente isso que gostava nela, a serenidade e calma.. mas era também o que o fazia buscar outros cheiros e outros gostos, Julliet. Enfim, não era hora de pensar naquilo. Havia prometido a si mesmo que seria a ultima vez que tinha traído, como de todas as outras vezes, mas agora, ele prometia a si mesmo que tinha dado um basta. Havia dito isso a Elizabeth enquanto vestia a roupa para sair do quarto na noite passada. Sua vida seria focada no seu casamento, e em Julliet, e ali estava ela, linda e sorridente esperando por ele.

Brincou de arranhar a barba porque sabia que arrancaria uns risinhos bobos dela, enquanto sentava de frente pra ela, daquele jeito sem modos. Tão diferente do jeito doce e suave que ela vinha para devolver os carinhos. Arrepiava com o toque sutil dos dedos nos cabelos, enquanto ele a trazia para perto, para o beijo que ela maneirava devido ao local aberto. Sentiu o lábio ser mordiscado e puxado com um sorriso, quando as mãos a tomavam pela cintura, aconchegando ainda mais o corpo dela, mantendo-a quase entre as pernas dele.

- Não mais que eu.. – ele murmurava quando ela colocava a cabeça em seu peito, o cafuné delicado que fazia naqueles cabelos, antes de deixar o beijo entre os fios. E ela perguntava como foram os últimos dias? Ele ganhava tempo para a resposta que daria, cedendo a cada beijinho que ela vinha lhe deixar. – Corridos, eu tive alguns projetos pra preparar, coisas do curso.. eu acabei te deixando na mão com as coisas do casamento né. Desculpa.. – Pedia.. e pedia de coração. Embora, não seria de nada mal se caísse um meteoro sobre a capela, ou algo do gênero e conseguissem prorrogar a data pelo menos.

- O que quer fazer hoje a noite? – perguntava, erguendo o rosto dela pelo queixo, para deixar os olhos castanho esverdeados nos dela. e adorava aquele cheirinho doce que vinha de sua pele Julliet. Era como se toda a paz do mundo estivesse ali naquele aroma. Emendava o assunto, para quem sabe assim não viessem mais perguntas sobre os últimos dias.

E porque o mundo não poderia ser tão simples assim hm? Quando estava com você Julliet, parecia que não precisava de nada mais. A vida era simples, fácil, pratica e repleta de carinhos e cuidados.. mas quando estava sem você.. tudo aquilo que o relacionamento sólido que possuíam deixava de lado aflorava, como era com Elizabeth.. Mas sorriu quando brincou duvidando de sua saudade.

- Ahh.. eu vou provar a você o quanto, sininho. – a chamava pelo apelido carinhoso, sentindo os dedos que ajeitavam a gola da sua camisa polo azul claro.. Aproveitava para desculpar-se pelos preparativos do casamento e assim desconversar sobre o seu sumiço. Meneava a cabeça quando ela falava que podiam resolver o que precisava dos dois depois.

- Eu prometo que vou ser o noivo mais comprometido nos próximos dias, - ele respondia entre os beijos que ela deixava em seus lábios e gostava tanto daquela boquinha rosada tomando a sua, ainda que em beijinhos delicados, que mordiscava o lábio inferior, puxando de leve, para toma-lo num beijo mais intenso em seguida. Ela dava a ideia de jantar fora, ele meneava a cabeça positivamente, sem interromper os beijos. Ou a mão que brincava ali na linha do cóccix, acariciando com a ponta dos dedos.

- E depois, você é minha.. por toda a noite.. e a gente vai ver o sol nascer.. no capo do meu carro. – ele dizia sorrindo, voltando a beija-la com mais vontade. Sem se importar muito com os olhares que caiam sobre os dois, e que o reverendo não escutasse suas ideias e programas, ou iria fazer com que ele ardesse nas chamas do inferno na próxima missa..

Os beijos eram interrompidos pelo ruido do vibrar do celular de Julliet avisando a chegada do SMS, ele a deixava atender Jullie, mas não a soltava, aproveitava o leve endireitar da coluna que você fazia para ler a mensagem, para se dedicar a afastar os cabelos levemente, para deixar beijinhos e mordidinhas na nuca, ou mesmo o roçar da barba por saber o quanto iria arrepiar você, até escutar a palavra. O nome que o fazia gelar inteiro, e ele chegava a retesar o corpo enfim afastando.

Elizabeth!?!? Mas que merda! Ela não entendia a parte em que ele tinha colocado um ponto final naquilo tudo e pedido pra ela se afastar dele e de Julliet?!!?! Claro que falou isso de toda as ultimas cinco vezes e sempre acabou no mesmo lugar: sem roupas no quarto dela. E claro que queria desmarcar.. mas era justo? Ja tinha atrasado as coisas do casamento..

- Não amor, tudo bem... a gente pode sair depois que.. vocês conversarem.. – ele forçava o sorriso.. – Eu to com saudade de ficar só com você. Mas eu vou entender se quiser ou precisar ver a Liz..a Elizabeth hoje.. – ele tentava o truque do compreensivo, para que ela desistisse por si mesma. Não ia ser nada bom, ficarem os três próximos aquela noite.

Ele sabia que seu corpo reagia acada toque, talvez por isso tinha se especializado em descobrir cada pontinho que despertava aquele delicioso arrepiar. Então entregava todas as mordidinhas possíveis bem ali na nuca, onde os fiozinhos dos cabelos brotam. Talvez fosse essa a resposta que ele precisava pra si. Pra por as coisas nos trilhos, na direção certa... um tempo só com você Julliet. Talvez fosse isso o necessário pra que ele fosse o noivo certo e perfeito, e o futuro marido ideal.. e isso lhe dava ideias.

Não gostava da ideia de ter Elizabeth perto, era como um vicio, uma coisa que impregnava na pele, que chegava a ter medo de transpirar o perfume dela. E funcionava, a resignação apaixonada que ele interpretava tinha o efeito certinho e Julliet deixava o encontro com Elizabeth para depois. Ele sorriu e você não tinha ideia do alivio que ele sentia Julliet. Ele voltava a abraça-la quando era puxado por ela.

- Gostou é?! – Sorria, mordiscando o lóbulo com os lábios pressionando ali, arranhando de levinho – Pois eu acho que estou num dia iluminado, e estava aqui acabando de ter outra ideia.. – e deixava um mordiscar nos lábios dela quando vinha aquele biquinho de quem não queria voltar pra aula.. ele também não tinha a menor vontade.

Cumprimentava os que passavam falando com eles, e a parte boa desta historia de casamento era exatamente a ausência de falatório e podiam ficar levemente mais a vontade na vista de todos, recostava a testa na sua Julliet, a mão brincando ali na linha da cintura, subia pela linha da coluna, para tomar a nuca mais uma vez.

- Eu estive pensando.. A gente ficou afastado esses últimos dias. – ele dizia, com os olhos baixos, a testa grudada na dela, os dedos ali acariciando a nuca tão de levinho.. estava tentando fazer dar certo, tinha que tentar!!! Talvez ficando longe uns dias, recuperasse tudo, consertasse tudo. – E se a gente viajasse no fim de semana.. eu sei que a gente tá com as coisas do casamento atrasados, e que tem um monte de coisa pra ver, buffet, igreja, convites, flores, o meu fraque.. mas.. – ele erguia o rosto para olha-la.. ajuda ele Julliet, ele queria ser o cara certo pra você, porque você não merecia metade das coisas que ele andava fazendo. – Mas eu acho que a gente ta precisando desse tempo só nosso.. sei la um chalet, um lago, eu.. você.. nenhuma roupa. – ele sorria deixando um beijinho de esquimó..

E ela queria saber onde eles jantariam?! Deixava as mãos deslizarem pelas costas.. lateral do corpo, braços ate encontrarem suas mãos e entrelaçarem.

- Hoje você escolhe.. onde tá querendo ir? – perguntava o leque de opções não ajudava muito mesmo. Meneava a cabeça quando ela dava o horário para que ele passasse lá. – As sete, sininho. Combinado. – voltava a buscar os lábios dela, num beijo molhado, intenso. Mordiscando a boquinha doce antes de afastar o rosto mais uma vez.

Você tinha aula, ele também, mas se ficasse mais dez minutos com você ali, ia jogar tudo pro alto e sequestrá-la. Ele era o garoto-problema, um crime a mais, um crime a menos não ia fazer grande diferença.